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Semana de Arte Contemporânea: TRANSconfigurações

       No ano de 1922, cujo centenário se celebra, um grupo de homens burgueses lançou-se a desafiar “bons gostos burgueses” impostos pelo capítulo do Parnasianismo na historiografia literária do Brasil - dentre outras importações-capítulos advindas da Europa. O grupo de intelectuais  organizou-se ao derredor de elaborações e observações que antecederam ao famoso ano de 1922 - o que culminaria na chamada Semana de Arte Moderna de 1922 ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo. Os homens que ficaram conhecidos como os organizadores e mentores da Semana são: Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954), Menotti del Picchia (1892-1988), Graça Aranha (1868 -1931), dentre outros que empenharam suas artes e ofícios poéticos, a exemplo de Manuel Bandeira (1886-1968), para que a semana gerasse impactos nas artes literárias, plásticas e musicais brasileiras. Mário de Andrade, um dos organizadores da semana, demonstrou parte da sua revolta para com a inteligência  brasileira que se prestava a encalacrar-se na fôrma parnasiana em diversos escritos e manifestações.  A semana trouxe, nas palavras de Mário – em 1942, vinte anos depois, na famosa conferência “O movimento modernista”, o  “direito permanente à pesquisa estética” e, também,  a “atualização da inteligência artística brasileira”. A Semana propôs-se a trazer novas formas de versificação, mais livres, com ritmos modernos; a parodiar cânones; a resgatar a cultura popular brasileira, a voltar-se para a brasilidade mais genuína. Como legado, o chamado Modernismo, demarcado pela Semana, deixou a investigação científica de modo definitivo para a literatura brasileira e para outras artes.

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       100 anos depois, celebramos os antigos e, principalmente, celebramos mulheres e pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte da Semana e de seus desdobramentos.  Aqui consagramos Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata (1854-1924) e o feito que envolve o primeiro samba brasileiro  “Pelo Telefone”, um feito acolhido e embalado pela Mãe de Santo em  sua casa no Rio de Janeiro, que fora gravado em 1917,  pela EMI-Odeon. Naquele mesmo 1917, há o evento que se conhece como estopim para a concretização da aglutinação de ideias que, mais tarde, culminaria na Semana, a exposição da artista plástica Anita Malfatti (1889-1964), cuja obra é ignorantemente criticada por Monteiro Lobato, o ultraconservador. Novamente, mais uma vez, naquele 1917, outra mulher se expressa lindamente, a sufragista-poeta Gilka Machado (1893-1980),  que publica “Estados de Alma”, tendo publicado dois outros livros nos dois anos anteriores e, ainda, publicaria “Mulher Nua” precisamente em 1922. Quantas mulheres mais formaram a mentalidade brasileira, a exemplo de Maria Firmina dos Reis (1822 - 1917) e outras tantas mais que não conseguiram espaço,  para que se fizesse um movimento contrário ao sistema literário-artístico-cultural vigente? Essa indagação é também o que a SEMANA DE ARTE CONTEMPORÂNEA: TRANSconfigurações pretende aspergir como forma de constantes buscas por (re)configurações e reivindicações por espaços diversos e plurais em 2022 .  

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       O evento da Semana de 1922 foi marcado pelo desejo de mudança estética, contudo sem a presença de muitas das representatividades necessárias para o debate e crescimento ainda maior da cultura brasileira no palco do Municipal de São Paulo. O debate diverso teria sido a ampliação dos espaços, mas mais ainda, a validação e a supra coerência do evento - uma  vez que justamente esse desejo tão válido por mudança não se reproduzisse de modo tão uníssono. Como desdobramento da Semana de 1922, damos as mãos com Tarsila do Amaral (1886-1973), a mulher que segurou a década dos anos de 1920 com sua arte que buscava acertar antropofagicamente e tropifagicamente sua leitura de Brasil. Como desdobramento mais firme ainda, em termos sociais, políticos e feministas,  damos um abraço forte na Patrícia Galvão, Pagu, Patsy, escritora, ativista, desenhista, mulher que foi considerada a musa do Modernismo brasileiro mesmo tendo apenas 12 anos de idade quando deu-se a Semana e que sequer ali estava, mas que devorou a antropofagia e denunciou a opressão da classe operária feminina no seu “Parque Industrial”, sendo presa política mais de vinte vezes. Ave, Pagu!

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       Assim, a SEMANA DE ARTE CONTEMPORÂNEA: TRANSconfigurações, promovida pelo projeto de extensão “FALA, BARROCO”, pela FALA, pelo GELINTER, pelo PPCL, pela PROEX, pela UERN traz a proposta-resgate do centenário a partir de um olhar (re)configurador por meio de (re)leituras literárias modernistas e contemporâneas para que se possa dialogar em torno das vozes presentes  e ausentes na Semana de 1922. A SEMANA de 2022, que acontecerá de 01 a 08 de abril de 2022, a partir da cidade de Mossoró-RN, reivindica a transfiguração de 1922 com mais debates acerca da colheita pós-Semana de Arte Moderna e uma busca assertiva por mais olhares atentos para a literatura-arte plural e diversa que se faz na contemporaneidade. Para isso, contamos com Conferências, Simpósios Temáticos, Oficinas, Minicursos, Exposições e construções de Artes Plásticas, Intervenções Culturais de Artes Cênicas, dentre outras construções e montagens teatrais cuja dimensão só teremos notícias 100 anos depois? Participemos ativamente.

Bom Evento a TODES!

 

 

 

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13 de dezembro de 2021,

Nesta Terra de Santa Luzia,

​​Leila Tabosa

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